quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Quando


Quando eu quis ouvir
Você não falou
Com medo de ferir
Aquietou

Quando você falou
De repente
Transbordou
Assustada, não quis escutar
Me vi feia em teu olhar
espelho a me desvelar
Me defendi, neguei, fugi

Mas se você não fala ou
se eu não ouço
Eu não te conheço
não me conheço
E nem cresço
E minha vida se tornará
medíocre

Sei que seu olhar me expande
Ao revelar-me, feia ou bonita
Sei que meu olhar te nutre
Conecta à essência, coração
Via de duas mãos
Por ser de amor, por ser de amado
Príncipe encantado
Desencantando
E se tornando
De carne e osso
Pra se encontrar
Com a princesa
de ponta-cabeça
Descabelada e descalça
Que um dia te pôs sorrindo
Estrela no céu a reluzir
Brilho de amor
Real e humano, 
Sem garantia de felicidade eterna
Mas com a promessa
da verdade
todo dia




sexta-feira, 12 de outubro de 2012

FLAMBOYANT VERMELHO

Eh Flamboyant vermelho

Sabiá cantando
Chuva no quintal
Meu filho me olhando
Estrelas no varal
Flamboyant florando
feito enfeite de natal

Eh Flamboyant vermelho

Vem e leva embora esse aperto do peito
Vem e me ensina a dançar com o vento

Vento vai, leva a folha seca
Vento traz num broto de flor
o novo que vem
Vento vem...

terça-feira, 9 de outubro de 2012

alma inquieta

ó alma inquieta
vem
pisar na terra, vem
sujar o pé de lama, vem
aterra
e verá
que é sua Mãe
que te espera
e acolherá
Não tenha medo
de caminhar pelo chão
e deixar por hora a imensidão
o que é seu sempre será
mas ninguém mais pode ocupar
o seu lugar
então vem
seja o que é
e verá
que o mundo,
mais belo,
te agradecerá

Um dia eu tive um pedestal


Um dia eu tive um pedestal
Microfone, e coisa e tal
Toquei em barzinho da capital
E sonhava em ser cantora
Feito Bethania e Gal

Um dia comprei uma mochila
E viajei por aí
Índia, Nepal, Espanha e Portugal
Caraíva, Santarém, de barco e de trem
Colecionava ímã de geladeira
E cartão postal

Um dia ganhei uma câmera
A vida invadiu minhas lentes
E tudo virou fotografia
Flor, paisagem, criança que sorria
E meu olhar revelou o mundo
Um dia

terça-feira, 2 de outubro de 2012

fazer ou não existir

Medo de fazer alguma coisa
e existir
pra todo mundo ver
olhar, gostar e não gostar

Medo de não fazer nada
e sumir, desaparecer
e ninguém nem saber
que estou aqui!

Eu e o outro

Eu e o outro somos um
às vezes sou só eu
às vezes somos dois
às vezes me torno o outro
e me perco de mim
E quando me dou conta
Volto afoita, sedenta
e mergulho de volta pra dentro
de cabeça,
profunda e intensamente
e do outro me perco
Ê dança sem fim
Que é o outro pra mim?



Limite

Grito entalado na garganta
Aperto no peito
Nó no estômago
Transbordando
O que 'eu fiz de mim' tá fazendo comigo?

Limite: liberdade e restrição
O que diz a voz do coração?

Limite é aceitar
que não posso tudo
que não cabe tudo

é vestir a roupa que me cabe
feita sob medida
Mas então por que às vezes me sinto
numa camisa de força?

Limite é ser em liberdade
Plenitude que sou
Ocupar o meu espaço
E deixar vazio
o que não sou

Limite é membrana
Horizonte de mim
Que separa o que é de dentro
do que é de fora
identidade pura

Limite é possibilidade
É ser tudo que se é
Brilhar, florescer
é simplesmente
ser
o
que
se
é

Mas então... Como é que se é?

segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Garoto do Pandeiro

Garoto do pandeiro
O que é que esconde
o teu olhar?
Deixa o samba
Embalsamar essa tristeza do peito
Vai te te cuidar, vai, vai te cuidar
Cachoeira, rio, mar
Deixa fluir, deixa jorrar

Deixa fluir, deixa levar
Até entrar na dança
Que é somente tua
E também da lua
E reencontrar
O teu compasso
Passo a passo
E só dançar

sexta-feira, 14 de setembro de 2012

Samba de aniversário


Colocar as velas no bolo, uma a uma
Anos de vida que se derretem sob a luz do fogo
Olhar amoroso da mãe
Mão calorosa do pai
Filho que se desmancha em risos e assovios... Ô meu canarinho!
Você sabe, assim como eu, que é musica que corre em minhas veias
E preenche meu coração
Tum-tum... Tum-tum... Tum-tum...
No toque do pandeiro
Sambo na roda da vida
Bailarina de mim
Num equilíbrar e desequilibrar pra depois
Encontrar um novo ponto de equilíbrio
(silêncio)
Ar que vem, ar que vai,
ar que sou
Mundo em mim
Terra que meus pés amassam
Que é mãe e me abraça
Ninho, colo, aconchego
Água de amor divino
Que me leva
Porque eu escolho me perder
E aí me encontro
No mar

quinta-feira, 30 de agosto de 2012

Sorry


Sorry
Se eu te assustei
Se me embaralhei
Se invadi teu espaço
E com minha intensidade
Inundei

Sorry
Se quis te ajudar
Pra me sentir melhor
Se tirei tudo do lugar
E joguei pro ar
Só por não saber
O que fazer
Com isso...

Me envergonhei
Entristeci
Silenciei
Queria apertar restart
E simplesmente ser
O que a gente é
E fazer
O que a gente faz
Em paz

E não falar ou fazer
 nada demais
Pode ser?