quarta-feira, 15 de novembro de 2006

Relato de Parto

Relato de parto da Tatiana e nascimento do Marcelinho


15.11.206 às 04:12h no HIAE com 40 semanas e 6 dias
Pais: Marcelo e Tatiana
Médico: Dr. Jorge Francisco Kuhn dos Santos / Dra. Esmerinda Maria Cavalcanti (Mema)
Doula: Cristina Balzano
GAMA - Grupo de Apoio à Maternidade Ativa: http://www.maternidadeativa.com.br/


O Parto
14 de novembro de 2006. Acordei de madrugada, às 03:30 da manhã, com contrações. Já tinha tido dois alarmes falsos, que me serviram, entre outras coisas, pra saber que dessa vez era pra valer. Fiquei feliz! Tentei não ficar ansiosa e relaxar, até descansei, mas dormir mesmo não consegui mais. O dia amanheceu frio e chuvoso, em pleno mês de novembro. Eu tinha combinado na noite anterior de ir ao Ceasa com a minha mãe naquela manhã. Fiquei super na dúvida, pois estava com contrações de 5 em 5 minutos, e embora soubesse que ainda eram os pródomos, não queria que minha mãe soubesse pra não ficar ansiosa. As dores estavam bem administráveis, e apesar de constantes eram relativamente leves (especialmente comparando com o que vem depois!) e rápidas, uns 30 segundos cada. Tinha ouvido tanto todo mundo falar que nesse começo tem que andar, se distrair, se mexer... Então resolvi seguir esses conselhos decidi ir ao Ceasa. Liguei logo cedo pra Cris, minha doula, pra contar o que estava acontecendo e perguntar se ela achava que tudo bem. Meu marido teve febre no dia anterior e não foi trabalhar – segundo o Dr. Jorge, ele já estava em trabalho de parto, hehehe! - e logo que ele acordou eu disse: ‘É hoje, fica aí descansando, vou no Ceasa e já volto!’. Ele ficou me olhando sem entender muita coisa... Depois me ligou pra perguntar se devia ir trabalhar e eu achei melhor não, mesmo sabendo que podia demorar... Seria bom tê-lo ao meu lado.
Bom, lá pelas 7:30h lá estávamos nós no Ceasa. No caminho eu pensava: ‘E se estiver muito trânsito e de repente as dores apertarem? E se estourar a bolsa? E se eu não conseguir disfarçar?’. Falei pra minha mãe que estava sentindo umas dorzinhas bem espaçadas, nada demais, não devia ser nada, mas que na hora que eu quisesse ir embora era pra ela aceitar imediatamente o pedido... Passeamos bastante, de vez em quando eu abaixava e ficava de cócoras durante uma contração, fingindo que estava olhando uma planta, e olhava no relógio sem parar. Fora isso até que eu estava normal. Encontrei uma amiga com a mãe, e ela sempre dizia que o Marcelinho ia nascer no dia 14 porque era aniversário da mãe dela, e lá estávamos nós nesse dia nos encontrando sem querer, e eu em trabalho de parto (TP)! Ela ainda brincou: ‘E aí, não é pra hoje não? A barriga tá baixa, não sei não...’ Eu só sorri: ‘pois é...’
A umas tantas me deu 5 minutos, aquelas dorzinhas começaram a me irritar, minha mãe procurando uma barraca que não achava de jeito nenhum, pedi pra ir embora. Até que chegamos rápido em casa, sem imprevistos, sem trânsito, tudo certo. Ufa! Tentei descansar um pouco, depois aproveitei pra convidar meu avô pra almoçar em casa. Pra ele eu resolvi contar – até porque ele ia achar estranho eu levantando da mesa de 5 em 5 min. e respirando fundo concentrada... Almoçamos eu, ele e o Marcelo, tomamos vinho que ele trouxe (acho que era o Trivento Golden Reserve, ou o Quinta do Valado), conversamos bastante, foi bem gostoso. Depois do almoço acho que relaxei, e o TP mudou de ritmo, as contrações eram bem mais espaçadas e quando vinham eram um pouco mais longas e intensas, chegaram a ter intervalos de 20 minutos entre elas. Aproveitei pra cochilar um pouco, fui separando coisas que não queria esquecer e deixando ao lado da mala. Lá pelas 4 da tarde me deu um faniquito, precisava sair, fazer alguma coisa. Catei meu marido e fomos numa loja de uniformes na rua de casa a pé – encontrei uma amiga da minha mãe lá, haha! - e depois resolvi que queria ir no Shopping Morumbi comprar roupa de cama e toalha pra babá e mais algumas coisa que inventei. Foi engraçado, de repente eu parava no meio do shopping e me apoiava numa coluna, mexendo de um lado pro outro. Imagina a cena, com aquela barriga discreta... Uma amiga ligou e eu não consegui falar muito com ela, já estava meio fora do ar. Na segunda vez que comecei a rebolar apoiada na coluna junto com o elefante indiano meu marido decidiu que era melhor ir pra casa e lá fomos nós. Nisso já eram quase 6 da tarde. Minha manicure ligou dizendo que estava por perto, perguntando se eu não queria fazer as unhas, eu disse que sim. Cheguei em casa e de repente me deu 5 minutos: eu tinha que andar. Desci, fiquei fazendo uns exercícios de ioga ‘meditando’ sozinha, depois fui andar. Andava rápido, sem parar, determinada, dando voltas na pracinha em frente de casa. Estava anoitecendo. Acho que foi aí que deu o ‘click’ e entrei no TP ativo mesmo. Nisso a manicure chegou, e eu voltei da caminhada com contrações de 6 em 6 minutos, agora mais intensas e durando 1 minuto cada. Fiz as unhas, dando umas paradas de vez em quando durante as contrações – a manicure disse que nunca tinha passado por isso em 20 anos de profissão, foi uma cena! Eu estava calma, feliz, me sentindo super bem. Liguei pra Cris de novo pra contar como andavam as coisas, combinamos que depois da ioga ela passaria aqui pra me ver, e conforme fosse, ela ia pra casa e depois voltava, ou então já ficava. Jantamos eu e o Filé, tomamos mais um pouco de vinho... A Cris chegou em casa umas 9, 9 e meia da noite. As contrações estavam de 5 em 5 minutos. Fomos conversando, conversando... E meio sem perceber o TP foi engrenando. Estava tudo tão tranqüilo que o Filé (Marcelo, meu marido) quase mandou a Cris pra casa uma hora, mas acho que ela pressentiu e resolveu ficar ‘mais um pouquinho’. Ela jantou, continuamos conversando, na sala, na cozinha, no quarto do bebê... Durante as contrações ela e o Filé se revezavam fazendo massagem, eu sentava na bola, agachava, respirava... E depois continuava conversando. Estávamos ouvindo música – lembro que era o CD da Bethânia ‘Brasileirinho’ e o da Orquestra Popular de Câmara ‘jogos, danças e canções’. As contrações foram aumentando e se tornando mais intensas, a Cris começou a fazer compressas quentes também, e aos poucos eu fui ficando mais séria, mais introspectiva, falando menos... Elas vinham como uma onda, tinham um pico e depois baixavam. Eu achei que isso ajudava muito a lidar com a dor. Lá pela meia-noite eu decidi ir pro chuveiro. Apaguei as luzes, acendi umas velas e fiquei lá um tempão deixando a água quente escorrer nas minhas costas. As contrações nessa altura estavam de 3 em 3 minutos, e a Cris aproveitou pra ligar pro Dr. Jorge. Uma coisa engraçada desse banho é que eu não tinha feito depilação e resolvi raspar as axilas, em meio às contrações! Depois de algum tempo o Dr. Jorge e a Dra. Mema chegaram. Eu não a conhecia, uma simpatia, era como se já conhecesse. Eu tinha combinado com o Dr.Jorge dele passar em casa antes de irmos para o hospital pois eu queria chegar lá com o TP adiantado, pelo menos 5 cm de dilatação. Deitei na cama para ele examinar – posição bem chatinha pra ter contrações, mas não tem jeito – e foi um momento de tensão: estava indo tudo bem até ali, mas a coisa estava ficando mais intensa, se ainda estivesse muito no começo... Será que iria agüentar?
Eram passados 45 minutos da meia-noite quando ele me examinou e disse que eu estava com colo médio e... 5 cm de dilatação. Yes! Fiquei animada, ele disse que já podíamos ir pro hospital ou esperar mais 1h e ver se dilatava mais um pouco e aí sim ir. Decidi esperar um pouco mais, afinal estava tão bom em casa, tão tranqüilo... Ficamos conversando os 5, no começo eu estava animada, oferecia uma água pra eles, se não queriam comer algo, conversava, mostrava a casa... mas a umas tantas eu só ouvia, já não falava mais, dali mais um pouco comecei a me irritar com as músicas, trocava toda hora e logo resolvi desligar tudo. Estava chegando a hora de ir para o hospital. Lá pelas 2h da manhã, o Dr. Jorge me examinou de novo e mais uma notícia boa: 6 cm de dilatação. Ele disse: se você quer ir para o hospital, é agora. Naquele momento eu entendi porque as pessoas decidem ter filho em casa! Mas pra mim não era o caso, então pegamos as malas e lá fomos nós. Dá um frio na barriga, está chegando a hora! Eu pensava que quando voltasse pra casa ia ter meu bebê comigo, nada mais ia ser como antes. No caminho tive umas 2 contrações bem desagradáveis, ainda bem que moro bem pertinho do Einstein, chegamos logo, lá pelas 2 da manhã.
A chegada no hospital foi uma mistura de emoções. A primeira coisa que me veio na cabeça foi a sensação de chegar num hotel em outro país depois de uma longa viagem de madrugada, meio perdida, meio sonada da viagem... Chegando num lugar novo.
O momento mais estranho foi chegar no quarto. Queria muito o Labor Delivery Room, um único quarto onde você faz o pré-parto, parto e pós-parto tudo no mesmo lugar, estava super aflita de não ter vaga pois só tem 4. Antes de sair de casa o Dr. Jorge ligou e tinha um vago, ufa! Cheguei no quarto e um milhão de imagens e emoções vieram à tona: minha avó tinha falecido naquele mesmo hospital 3 meses antes, e apesar de ser outro quarto, a decoração era a mesma, a sensação era de estar no mesmo lugar, a vida e a morte se encontrando, o fim e o começo. No início foi horrível, pedi até pra Cris cobrir o relógio do quarto e a lousa onde anotam os remédios – as enfermeiras me acharam louca, mas a Cris deu um jeito e resolveu o assunto. Era o meu ‘esqueleto do armário’, uma das surpresas que a gente encontra no caminho no TP e que não tem como se preparar pra elas, sempre aparecem, temos que lidar com elas e pronto. Sabia que ia ter que superar aquilo pro TP continuar. Procurei meu marido e ele não estava, tinha ficado preenchendo a papelada. Logo ele chegou e abracei-o bem forte, estava com um nó na garganta. Em seguida chegou a Cris com a bola e um CD com uma música mágica, que mudou o clima na hora, respirei aliviada: estava de volta ao meu eixo. (O mais incrível é que senti a presença da minha avó muito forte no meu parto o tempo todo, como se ela estivesse de um lado e Nossa Senhora do outro. Sempre fui muito ligada a ela e ela era muito forte pra dor, aprendi muito com ela durante a vida toda e também no final, na sua luta contra o câncer. E estar grávida me ajudou a aceitar e compreender a morte dela de uma forma mais natural, mexeu muito comigo e tenho certeza que me ajudou no parto. A outra coisa foi a fé. Nas aulas de ioga, na hora da meditação, a Cris sempre falava pra nos imaginar sendo cobertas por um ovo azul, eu e meu bebê, e nessa hora eu imaginava o manto de Nossa Senhora nos cobrindo e abençoando, e a presença dela foi muito forte pra mim no parto também. Acho que a fé sempre ajuda nessas horas, qualquer que seja a sua fé...Levei minha almofada de Nossa Senhora de estimação e fiquei o tempo todo abraçada com ela!). Voltando ao TP... Na mesma hora em que eu tentava me acalmar e entrar no clima do parto, a enfermeira do Einstein ficava me ‘interrogando’, ignorando o fato de que eu estava em plenas contrações: ‘quando foi a sua 1a menstruação?’ blá blá blá... Meu marido ia respondendo o que sabia e o que não sabia, inventava!
Logo quis ir pra banheira.

Daí pra frente as minhas lembranças são meio confusas, mas vamos lá. Logo que fui pra banheira eu ainda estava bem ‘ligada’, lembro que fiquei sozinha com meu marido e seguimos as recomendações da Ana Cris de que beijar era bom e estimulava o TP, ficamos lá namorando um pouco, se curtindo, foi um momento gostoso. As contrações foram aumentando, e uma hora eu pedi pra chamar a Cris, pois queria falar com ela. O Dr. Jorge apareceu, perguntando se podia ajudar, pois a Cris tinha ido se trocar. Eu olhei e disse que na verdade não, era da Cris que eu precisava, queria falar com ela. Ele falou que assim que ela chegasse ele avisava, que ela já estava chegando, e voltou pro seu canto no quarto. Foi muito delicado e deixou a gente super à vontade, respeitou e não interferiu. A Cris chegou e eu estava começando a ficar angustiada, não achava posição nas contrações, as respirações não ajudavam direito... Era a fase de transição. Acho que foi nessa hora que chamei ela de canto e falei que não sabia mais o que fazer pra lidar com as contrações, que começava a passar pela minha cabeça quem sabe logo mais pedir anestesia. Lembro que ela olhou bem nos meus olhos e me disse que eu estava indo super bem, que o TP estava evoluindo rápido, que era pra eu me conectar com o meu bebê, que faltava pouco... Não lembro de tudo que ela falou, mas as palavras dela foram mágicas, na próxima contração consegui lidar muito melhor seguindo suas dicas, e respirei aliviada. Não tinha perdido o controle. (Numa das minhas conversas sobre parto, uma das meninas me contou que uma hora tinha ‘perdido o controle da dor’. Eu queria entender o que era isso exatamente, e ela disse que entre uma contração e outra ela tinha medo da próxima contração, e foi a partir daí que acabou pedindo anestesia. Essa conversa me ajudou a entender de alguma forma o que tinha que fazer, ou no que prestar atenção, não sei, todas essas coisas que a gente vai ouvindo vêm na hora nos ajudar, nos guiar. Obs: Eu sempre fui super fraca pra dor, de chorar na depilação! É por isso que eu digo: no parto, tudo é possível... ). A transição pra mim é como quando você está no meio do túnel, já não vê mais o começo e ainda não vê o final, está tudo escuro... O desafio é não se perder no caminho e buscar de novo essa ‘luz’, a saída. A umas tantas eu quis fazer exame de toque de novo pra saber como estava evoluindo, pois já estava ficando ‘punk’. De novo, a tensão: será que evoluiu? Não sabia se agüentaria muito mais tempo se não estivesse evoluindo... Eu devia estar na banheira há uns 40 minutos, 1 hora mais ou menos. Aí veio uma outra surpresa boa: eu já estava com 9 pra 10 centímetros, colo médio, e vinham as primeiras vontades de fazer força – estava entrando no expulsivo! Fiquei atônita e me deu um frio na barriga de novo. Foi só aí que eu percebi que nunca tinha realmente acreditado que não iria tomar anestesia, minha meta era ir o mais longe possível sem ela, mas como sempre fui fraca pra dor pensava em ir até quando agüentasse e na hora que eu quisesse eu pedia anestesia e pronto. Ou seja, foi o fato de poder tomar anestesia a qualquer momento que me tranqüilizou e ajudou a acabar não tomando... E nisso eu não tinha nem imaginado que ia vivenciar o expulsivo, sentir tudo, não tinha me preparado. Fiquei assustada e chamei a Cris no canto (da banheira) de novo, falei pra ela bem baixinho que estava com medo do expulsivo. Mais uma vez, seu olhar e suas palavras me acalmaram e colocaram de volta no eixo. Ela disse que imagina, não tinha porque ter medo, que o expulsivo era mais tranqüilo, que o pior já tinha passado, que eu já tinha chegado até ali, já estava quase no final, que eu estava indo muito, muito bem mesmo... Aquilo foi como um bálsamo, era exatamente o que eu precisava ouvir; eu me animei e fui em frente. Eu já estava começando a querer fazer força, não sabia como lidar, estava meio presa. De repente, não sei muito em que ordem, o Filé percebeu que estava de alguma forma me travando e saiu do banheiro. Era o que faltava pra eu ‘virar a chavinha’ e entrar na partolândia, e deixar a ‘mulher selvagem’ assumir o comando. Daí pra frente foi tudo totalmente instintivo, muda totalmente a energia do parto, é algo muito forte e muito intenso, a cabeça não controla mais. Você fica totalmente focada em fazer força, em se abrir para a passagem do bebê, em deixar a força do seu corpo agir em você através das contrações... O Marcelo me contou depois que o Dr. Jorge nessa hora comentou com ele que eu precisava me soltar, que podia gritar se quisesse, que iria ajudar. Ninguém me falou nada, mas nem precisou. Logo comecei a fazer uns barulhos, uns grunhidos e quando vi estava gritando loucamente, gritei muuuuito, sons agudos, sons graves, fazia brrrrrrrrrr na água, falava coisas como ‘sai, sai, sai! ou ‘passa, passa, passa!’. Não eram gritos de dor, mas sim de força, de liberação, uma coisa muito louca. (sobre gritar... Numa das últimas consultas com o Dr. Jorge ele comentou de um filme alemão de partos que era meio chocante pois uma das mulheres gritava muito, e deu pro Marcelo assistir e ver se achava que eu devia assistir também. A gente não deu muita bola, mas ele realmente insistiu, perguntava no email ‘e aí, já viu o filme? O que achou?’ e a gente ficou sem graça de falar não e acabou assistindo. No final nem fiquei tão impressionada mas achei esquisito aquelas mulheres gritando, pensei que exagero aquele escândalo, imagina que eu ia gritar daquele jeito... Mas aquelas referências ficam guardadas e na hora acabam sendo muito importantes. Parece que ele adivinhou...) A umas tantas eu solto um agudo agudíssimo e altíssimo que veio lá do fundo das minhas referências musicais, e o Dr. Jorge vira e fala ‘nossa, que agudo bonito você tem, um agudo lírico!’ Haha, muito boa! Eu só pensava que ia acordar todos os nenês da maternidade... (sobre canto... Eu sempre gostei de cantar, é um jeito de me expressar, faço aula há 10 anos. Achei que na gravidez ia ter muita vontade de cantar, mas foi ao contrário, fiquei mais introspectiva e não cantei quase nada, a não ser músicas de ninar para o Marcelinho na barriga. Em um dos livros que eu li na gravidez, ‘Quando o Corpo Consente’, a autora fala da ligação que existe entre a região da boca e o períneo, e que aprender a relaxar os músculos da região da boca, maxilar, faringe etc. ajuda a relaxar o canal de parto e o períneo. Fiz alguns exercícios durante a gravidez, e pra mim era até que fácil porque, por causa das aulas de canto, já tinha consciência desses músculos e de técnicas de relaxamento. E na hora ‘P’ veio muito forte todas as referências do canto, foi incrível! Eu automaticamente ia fazendo um monte de barulhos e exercícios de voz que tinha no ‘repertório’ , literalmente soltei a voz. É como se eu estivesse colocando pra fora tudo aquilo que fiquei gestando durante os 9 meses da gravidez. E me ajudou muito, a sensação era de que o nenê estava passando também pela minha garganta, senti muito forte essa conexão. Depois fui contar tudo isso pra minha Profa. de canto e ela disse ‘Claro, é que o períneo é o último músculo da respiração, ué!’) A Cris conta que uma hora, bem no final, entre uma contração e outra, eu comecei a cantar uma música pro Marcelinho. Era a música do Alecrim Dourado, que eu tinha escolhido durante a gravidez pra ser a ‘nossa música’, e cantava pra ele quase todos os dias... Era o meu jeito de me conectar a ele, de dizer que eu estava ali, que estávamos passando por aquilo juntos.
No meio disso tudo, acho que até antes um pouco, estourou a bolsa, eu nem percebi mas a Cris e o Marcelo viram o jato de água saindo na banheira. O Marcelo disse que ficou ansioso nessa hora, pensou ‘agora vai!’.
O expulsivo é como entrar num daqueles tobogãs bem altos de parque aquático. Quando começa a descer e ainda está devagarzinho você fecha os olhos, sente aquele frio na barriga e pensa: ‘por que mesmo eu fui me meter nisso? Agora não dá mais pra voltar atrás...’ Mas depois começa a cair e só o que dá pra fazer é se deixar levar e gritar. Foi o que eu fiz!
Meu expulsivo foi muito intenso e rápido. Eu estava muito determinada! Não achei nada tranqüilo, mas o que ajuda é que realmente muda o ritmo, você está focada em fazer força, já está no final, o seu bebê está chegando, já nem lembra tanto da dor... A gente vai se superando, testando nossos limites, vai mais um pouquinho, vai indo, vai indo e quando vai ver, já foi! Lembro que a Ana Cris falou mais ou menos isso num curso e é muito verdade. Não temos consciência do que somos capazes, só vamos descobrindo no caminho. Eu não tinha idéia que ia chegar onde cheguei.
Bom, eu já estava chegando no final, alguém me falou que estava quase acabando, faltavam poucas contrações, e eu virei pra eles (Cris, Dr. Jorge e Marcelo) e falei: mais 3! O Marcelo disse: ‘Como? 13?’ E eu: ‘não, 3!’ Eles se entreolharam e resolveram não contrariar... Olha, em 3 não foi, mas acho que foi numas 5 contrações...! Eu ainda estava na banheira nessa hora, e a enfermeira do Einstein não parava de nos azucrinar pedindo pra eu sair da banheira, pois o bebê não podia nascer ali. Eu fui saindo pra ir pra cama no quarto e disse pra ela ficar tranqüila que eu não queria que o bebê nascesse na água, não! Subi na cama na mesma posição que estava na banheira, meio de 4, inclinada, virada para o encosto da cama (que estava inclinado), abraçando os travesseiros e minha almofada de Nossa Senhora de estimação. O Marcelo ficou do meu lado o tempo todo, segurando a minha mão. Eu quase quebrei a mão dele, de tanto fazer força!!! Foi nessa hora que senti como se o bebê estivesse passando pela garganta também... As contrações começam a emendar umas nas outras, e de repente você sente um ardor enorme e parece que vai estourar... (Me veio muito na cabeça todos os relatos de parto que tinha lido, falando do ‘círculo de fogo’ e que não era pra ficar tensa que não ia ‘estourar tudo’...) De repente eu ouço alguém dizer que estava vendo a cabecinha. O Dr. Jorge pega a minha mão e a leva até lá, eu senti a cabeça do Marcelinho coroando. Nossa, que emoção! Comecei a chorar, rir, tudo ao mesmo tempo, foi o máximo. Lembro direitinho da sensação. Foi um presente! Fiz mais uma ou 2 forças e de repente ‘ploft!’ sai um bebê! É inexplicável, não dá pra descrever. O Dr. Jorge o pegou, eu me virei e ele veio direto pros meus braços, ainda com o cordão umbilical ligado a mim, todo melecadinho, quentinho... Ele abriu os olhinhos e a gente se olhou pela primeira vez, nunca vou esquecer esse olhar, esse rostinho... Nessa hora a emoção é tanta que não lembro a ordem das coisas direito. Sei que a umas tantas ele começou a chorar e não parava mais, acho que chorou uns 20 minutos, por aí. Depois já veio pro meu peito e foi logo mamando, incrível como estava alerta e sugava forte! Pedi pra chamar a minha mãe pra entrar no quarto logo que ele nasceu. Demorou um pouco pra placenta sair e eu achei muito chato ter que fazer as últimas forcinhas, reclamei mais do que no parto, já queria encerrar logo o assunto. Imagina, depois do bebê a placenta deveria ser fichinha... Acho que demorou uns 40 minutos. Uma coisa engraçada foi que eu sempre achava nojento ver as placentas nos filmes de parto, não achava a menor graça naquilo. Mas quando o Dr. Jorge me mostrou a minha, que vi onde o Marcelinho tinha ficado os 9 meses, onde tinha se alimentado, achei o máximo, adorei!
Tive uma pequena laceração, mas não precisou de ponto nem nada. Esperamos o cordão parar de bater e o papai Marcelo cortou o cordão. Sei que ele também segurou o Marcelinho nos braços logo nos primeiros minutos ele também deu o 1o banho e o vestiu, tudo do meu lado. Nisso eu já fui levantando pra ajudar a colocar a fralda. Depois quis tomar um banho rápido pra ficar em ordem pra poder chamar o resto da família. Fui andando, tomei o banho de pé, a enfermeira me apressando e eu ‘calma, ainda não acabei!’. Eu estava meio fraca e cansada, mas me sentia super bem! O Marcelinho veio ao mundo num ambiente de paz e muito amor. A luz era branda, e bem na hora do nascimento a Cris colocou um CD que eu tinha separado e que tinha ouvido muito no final da gravidez, chamado Canto das Águas. Foi um momento único. Conseguimos conversar com a Pediatra de plantão e as rotinas com o bebê foram do jeito que a gente queria. Ele ficou o tempo todo com a gente no quarto.
Nasceu às 4h12min de 15 de novembro de 2006, com 3,495 kg e 50,5 cm.

segunda-feira, 6 de novembro de 2006

Divagações sobre parto e nascimento do auge das minhas 40 semanas

Nascimento, dar à luz...

É o encontro com as luzes e as sombras da minha vida até agora

Um encontro com as profundezas do meu 'eu', o 'eu' instintivo, interior,inteiro, vivo

Justo onde se conecta com o mundo e com Deus e com a energia que gera a vida,

Parte que é todo.

É entrar em contato com os meus infinitos e meus limites

Com o que eu não controlo, o que não me pertence, o que me leva, a que pertenço...

Onde começa e onde termina

Essa história?

A vida?

Eu?

Meu filho?

Este mundo?

Água que flui

Rio que é mar

Que é rio

Que flui em mim

Força que me toma e trasforma

E me faz

Cada vez mais

Eu (Grávida de mim)