sexta-feira, 14 de agosto de 2009

João


Ternura, paz, aconchego
Amanhece meu dia
e alegra meu coracao
Dia que quero viver intensamente
... absorver cada momento,
cada movimento, cada suspiro teu
Dia que não volta, mas que fica
Quero todos os dias
todos os seus momentos
vida que acontece agora, já
vida que quero agarrar
e morder, e beijar, e amassar
Quero deixar viver
e estar junto pra ver!

quinta-feira, 14 de maio de 2009

Relato do Parto II - nascimento do João




Faço questão de compartilhar essa história na íntegra para que inspire outras pessoas da mesma maneira que outras histórias me inspiraram e ajudaram a chegar até aqui.

Nascimento do João

Pais:
Tatiana Piva de Albuquerque Sartori e Marcelo Sartori
Equipe:
Dr. Jorge F. Kuhn dos Santos
Dra. Esmerinda Maria Cavalcante
Dra. Andréa Spinola
Cristina Balzano Guimarães
Data: 10 de janeiro de 2009
Hospital Israelita Albert Einstein
*para ler o relato do parto do Marcelinho, clique aqui.

A GRAVIDEZ

João é fruto da nossa 2ª gravidez planejada e muito bem-vinda. Parei de amamentar o Marcelinho com 1 ano e 2 meses, em fevereiro de 2008, pensando em engravidar. No final de abril já estava grávida. Eu já era mãe, e muito realizada. E já tinha trilhado um caminho sem volta na outra gravidez, que também me realizou muito: o do parto natural. Essa 2ª gravidez foi tranqüila e cheia de acontecimentos: decidir mudar de casa, procurar, alugar, mudar; decidir colocar o Marcelinho na escola, escolher, fazer a adaptação; administrar trabalho e filho; cansaço. Não tive muito tempo de prestar atenção na gravidez até bem no final, quando parei de trabalhar e depois de fazer a mudança.

O PARTO

Era uma sexta-feira, 09 de janeiro. Estava com 41 semanas e 2 dias de gravidez. Na véspera eu tinha feito exames – cardiotoco e ultrassom – e o João estava ótimo na barriga, tranquilão, dava pra ficar até mais 1 semana lá dentro segundo o ultrassonografista. Depois de ter passado momentos de tensão ao passar das 41 semanas, quando soube que ele estava bem eu relaxei. Até convidei uns amigos pra ir jantar em casa, e no final a Sandrinha e o Bacchi, amigos e vizinhos, toparam dar uma passada lá pra tomar uma taça de vinho com a gente.
O Filé (Marcelo, meu marido) foi pôr o Marcelinho pra dormir e a Sandrinha estava fazendo o mesmo com a Ana Luiza, combinamos que quem terminasse primeiro avisava o outro. Já eram quase 10 da noite, o Marcelo acabou pegando no sono com o pequeno e a Sandrinha estava demorando, e eu louca pra começar a tomar o Rio Sol Rosé que estava aguardando na geladeira. Decidi ir abrindo o vinho e já ir tomando uns golinhos, e dei um pouco pra Rose (babá) provar e me fazer companhia. Brindamos e, quando eu estava tomando o primeiro gole, senti uma coisa diferente, uma aguinha saindo, mas era pouquinho. Fui ao banheiro, a calcinha estava molhada, mas não encharcada. ‘Será que é a bolsa?’ pensei. Esperei mais um pouco, outro jatinho, ia ter que trocar a calcinha. Decidi subir pro meu quarto pra averiguar melhor. Era um líquido bem transparente e no começo quase não tinha cheiro, mas logo a quantidade foi aumentando um pouco e deu pra sentir um cheiro diferente, meio parecido com água sanitária. Nessa altura a calcinha já estava encharcada pelos jatinhos que vinham saindo: era mesmo a bolsa que tinha rompido, ruptura alta. Eu não estava sentindo nada, então só restava esperar. Fiquei tão feliz que tinha chegado a hora! Engraçado que eu queria que a bolsa rompesse pra saber quando chegasse a hora, tinha imaginado que seria assim. Liguei pra Cris Balzano, que seria minha doula, pra avisar, e combinei que assim que sentisse alguma coisa, ligaria de novo. Eram 10 da noite.
Coloquei um absorvente, uma calça preta e desci pra encontrar a Sandrinha e o Bacchi, que já estavam me esperando na cozinha. Detalhe: o Bacchi tinha pedido pra eu não contar pra ele quando estivesse em trabalho de parto, ele não queria saber de jeito nenhum, pois ficava nervoso... O jeito era disfarçar, e foi o que eu fiz. Pensei que seria até bom pra distrair nesse comecinho.
Pegamos nossas taças, fomos pra sala e ficamos conversando. Aos poucos, enquanto conversávamos e tomávamos vinho, as contrações começaram a chegar. No começo fiquei na dúvida, mas logo vi que estavam vindo já bem perceptíveis e relativamente perto uma da outra. Tentei cronometrar discretamente enquanto conversava, mas não consegui. Uma hora fui pegar algo na cozinha e agachei disfarçadamente quando veio uma delas... Uns 20 minutos depois, a Ana Luiza começou a chorar e o Bacchi foi pra casa cuidar dela, e ficamos só eu e a Sã. Assim que ele saiu contei pra ela o que estava acontecendo e pedi que ficasse e me ajudasse a medir o tempo entre as contrações. Ela aproveitou pra fazer umas fotos da minha barriga que ainda não tinha feito (a Sandrinha é fotógrafa e tínhamos feito um ensaio fotográfico antes, mas faltara a foto de barriga de fora). Fomos conversando, tirando fotos, eu muito calma, e as contrações aumentando. Estavam mais ou menos de 4 em 4 minutos. Fui buscar a bola de pilates pra sentar e me ajudar quando elas vinham; já não conseguia sorrir ou olhar pra foto durante as contrações, estavam ficando mais fortes muito rápido, já demandavam concentração. Logo estavam de 3 em 3 minutos, a Sandrinha começou a ficar apreensiva e me fez ligar pra Cris (Balzano, minha doula), e foi o que eu fiz. Ela na hora disse ‘Estou indo praí!’ Eram umas 23h20m mais ou menos. O Marcelo dormia lá em cima, sem saber o que se passava. Era hora de acordá-lo. Lembrei da minha irmã que estava indo viajar e tinha pedido pra avisar se estivesse pra nascer que ela não iria, mandei uma mensagem de texto enquanto a Sã tirava as últimas fotos, já quase não conseguia me concentrar em outra coisa a não ser as contrações. Me despedi da Sandrinha e decidi que era hora de ir pro chuveiro, pra ajudar a relaxar e entrar no clima. Antes, passei no quarto do Marcelinho e dei de cara com o Marcelo que, sonado, perguntou: ‘Que horas são?’ E eu: ‘Hora de ser Pai!!!’ Ele: ‘Como assim?!’, sem entender nada. E eu: ‘ É isso mesmo, a bolsa rompeu alta faz 1 hora, estou com contrações de 3 em 3 minutos, tô indo pro chuveiro e a Cris Balzano tá vindo pra cá. Não se esquece de abrir a porta pra ela!!!’ E lá fui eu pro meu banho. Acho que ele demorou uns minutos ainda pra entender o que estava acontecendo. Se trocou, foi fazer a sua mala. Eu coloquei uma música bem relaxante – acho que foi o cd do parto do Marcelinho, Canto das Águas - e pedi pra ele aumentar a temperatura da água do chuveiro pra ficar bem quente. Foi um momento muito gostoso, me conectei muito com o bebê, com o parto, com a natureza, me imaginei na praia no meu lugar preferido pra relaxar, me encontrei comigo mesma. Conversava com o João, falando pra ele vir tranqüilo que íamos passar por aquilo juntos, que ele ia ser recebido numa ‘casa’ tão aconchegante quanto a que ele estava lá dentro, com muito amor... Segundo a Cris, é o ritual de entrega, a hora que você deixa vir, deixa acontecer. No começo, me dependurava no beiral da janela e deixava a água escorrer nas costas quando a contração vinha. Estava uma noite linda e fresca aproveitava pra dar uma espiadinha na lua, que me acompanhava e dava forças, e pegar um ar (lá dentro estava muuito quente!). Depois, passei a me agachar de frente pra parede e soltava o ar soprando devagar: ‘affhhhuuuhuhuhuhuhuhu’, mais ou menos como aquela doula mexicana fez num documentário que assisti (Naoli). De vez em quando o Marcelo entrava e me perguntava alguma coisa, todo cheio de dedos: ‘Vc pode falar? Onde está a mala do João?’ Senti que as contrações estavam ficando mais próximas e mais longas, além de mais intensas. A Cris chegou logo, ficou sentadinha do lado do chuveiro um pouco me observando, medindo a duração das contrações e o tempo entre elas. Depois de um tempinho já me pediu pra sair do banho pra me examinar. Sair de lá do meu mundinho seria desconfortável, mas necessário, então lá fui eu. Deitei na cama e ela auscultou o bebê – estava tudo bem – e fez o exame de toque: 7 cm. Hora de ir pro hospital! Dr. Jorge já estava avisado, ela ligou pra contar do exame e ele e a Dra. Mema foram direto para o Einstein para nos encontrarmos lá.
Enquanto eu me vestia, o Marcelo foi carregando o carro. Eu me lembrava de alguma coisa e ia pedindo, dando ordens com o mínimo de palavras possível, tipo ‘pega o CD (do parto do João), na minha bolsa’. Nessa hora, as contrações já estavam bem fortes e próximas – como estava evoluindo rápido! - eu chamava a Cris ou o Filé pra me fazer massagem, não queria ficar sozinha. Uma quando estava me trocando, outra logo antes de entrar no carro – essa eu me agachei perto do pneu e me lembro de ter vontade de fazer barulho, mas me preocupei com os vizinhos. Durante as contrações já não bastava soprar, começava a dar vontade de falar ‘haahahahhahah’ junto – por isso fiquei preocupada com o barulho, pq daí pra começar a gritar como da outra vez poderia ser um pulo! Quando a gente estava saindo, passando pelo lavabo, me deu vontade de ir ao banheiro. Falei pra Cris que era vontade ‘de verdade’, pra ficar tranqüila que ainda não era o nenê chegando, não! (muita gente já sabe, mas é que no expulsivo, a hora que o bebê está saindo, dá uma vontade de fazer força que muitas vezes é associada à ‘força de cocô’...) Quando estava lá sentada veio uma contração forte e pedi pra Cris fazer massagem em mim, ali mesmo, no trono. Nada poético, mas nessa hora a gente não pensa em nada – na verdade, eu até pensei, e se bobear falei ‘que situação’, mas vamos que vamos.
Antes de entrar no carro, a Cris me falou: ‘se der vontade de fazer força, NÃO FAÇA, faz a respiração da ioga que te ensinei’. A tal respiração é uma superficial, rapidinha, pelo nariz, que ajuda em muitas coisas no trabalho de parto (TP), uma delas é a manter-se concentrada e a entrar na ‘partolândia’, ou seja, desligar a cabeça do mundo e de todas as interferências e entrar no mundo do parto; outra utilidade é pra ajudar a não fazer muita força na hora que dá vontade nas contrações finais e deixar apenas a contração, agir pro nenê não sair rápido demais e evitar laceração no períneo; ou, no caso, pra evitar que o nenê nascesse no carro se a coisa acelerasse ainda mais!
Lá fomos nós, eu no banco de trás, agachada de costas, Filé na direção, Cris no carro dela. Esses momentos de mudança de ambiente são cheios de interferências, então, pra conseguir me manter concentrada e lidar com as contrações durante o trajeto, usei a tal respiração o tempo todo. O Filé ficou super assustado, achando que podia ser a vontade de fazer força de nenê querendo nascer! Ele me perguntava se tava tudo bem, queria dirigir e fazer massagem em mim ao mesmo tempo pra me ajudar, e eu ‘Dirige!’, querendo dizer ‘faz a sua parte, que eu faço a minha’. Estávamos quase chegando e a rua do hospital estava interditada, tivemos que dar uma volta maior... Ainda bem que era perto!!!
Chegamos pouco mais de meia-noite e meia, e o Dr. Jorge e a Dra. Mema já estavam lá, o que foi ótimo. Fui entrando com a Cris e o Filé ficou no guichê da recepção vendo a papelada. Graças a Deus, ninguém veio me perguntar nada, como fizeram no parto do Marcelinho, até porque eu não estava mesmo em condições de responder. Fui pra uma das salas de pré-parto (tem o Labor Delivery Room - LDR, um quarto só pra parto normal, que é maravilhoso, mas estavam todos ocupados, infelizmente) e logo pedi pra ir pro chuveiro. Era um entra e sai de enfermeiras, claramente nervosas pelo fato de eu estar praticamente no expulsivo e sem anestesia, perdidas, se trombando, em minha opinião mais atrapalhando que ajudando. Bom, o fato é que a água do chuveiro não esquentava, justo quando eu mais precisava dela. Nisso, as contrações estavam aumentando, e eu precisava de muuuita concentração pra me manter no eixo, então além de abaixar e assoprar comecei a soltar uns gritos. Começaram baixos e até tímidos, mas, na medida em que o ‘ruído’ externo ia aumentando, mais eu gritava alto e agudo, agachada e apoiada na pia durante as contrações, um agudo lírico que resgatei lá das aulas de canto de muito tempo atrás, como no parto do Marcelinho. Enquanto esperava, veio de novo a vontade de fazer o n°2 ‘de verdade’ e, pra completar a novela, a privada entupiu e quase transbordou!!! Decidiram me mudar de quarto por causa dos problemas do banheiro, então lá fui eu pra sala de pré-parto ao lado. Queria vestir minha roupa de volta – odeio aquelas camisolas de hospital – mas a outra sala era logo ali, e as enfermeiras me convenceram a ir com a camisola feinha mesmo, achei que naquela altura comprar essa briga não valeria a pena, que ideia a minha. Mais uma mudança de ambiente, eu usando todos os meios pra não me desconcentrar e, quando chegamos ao novo banheiro, a água estava quente demais e as enfermeiras não conseguiam regular o chuveiro. Fui ficando aflita, meus agudos líricos quase quebrando os cristais do prédio inteiro, e disse para as enfermeiras: ‘arruma isso logo ou eu vou deixar todo mundo surdo aqui!!!’ e soltava a voz mais alta e aguda ainda, como uma loba uivando, acho que até tampei meus ouvidos. Era uma tentativa quase desesperada de impedir que toda aquela confusão me tirasse a concentração naquela avalanche de intensidade de final de trabalho de parto, meu mecanismo de defesa, e um jeito de soltar e deixar a contração agir, deixar vir. Dizem que os agudos chamaram tanto a atenção que ficaram até famosos, veio gente do outro prédio pra ver o que estava acontecendo... Fiquei conhecida como a ‘cantora lírica que teve o filho cantando no chuveiro’! Quem passar por lá, pode perguntar pras enfermeiras que elas vão contar. Sobre os gritos, meu marido disse que no começo achou que nem dava pra ouvir quando ia pro guichê no final do corredor, ele achou que dessa vez não ia ser tão forte quanto do parto do Marcelinho, mas no final... Ainda bem que não tinha ninguém na sala de pré-parto ao lado ou alguma família esperando no corredor!
Quando finalmente entrei no chuveiro, foi um alívio, ali encontrei meu lugar. Depois de todas essas transições, não iria agüentar mais uma (pra sala de parto, que é o centro cirúrgico, clima zero), e logo fui vendo que ia ser difícil sair dali, queria ter o bebê ali mesmo. Mais do que queria, precisava, não me imaginava saindo dali naquela altura. O chuveiro era minha anestesia, e o box, um cantinho particular pra me proteger e me concentrar, meu ‘ninho’. Afinal de contas, o ambiente hospitalar não é lá muito acolhedor ou preparado para esse tipo de parto. Sentia no ar e nos olhares uma estranheza e reprovação velada, apesar do esforço de todos do hospital em apoiar e estar à nossa disposição. A Cris estava do meu lado o tempo todo, puxei-a pra perto e falei ‘será que dá pra ser aqui? Vai ser difícil sair...’ Ela disse que não sabia, pra ir ficando e ela ia ver o que dava pra fazer, e acho que foi falar com o Dr. Jorge. Dessa vez eu tava bem mais ligada, conectada com o que estava acontecendo à minha volta do que no 1º parto, mas mesmo assim tem muita coisa que não registrei ou lembro vagamente. A luz do banheiro estava apagada, a meu pedido, pra ficar mais gostosinho, mas a porta ficou aberta o tempo todo e a luz do quarto nos iluminava bem. Dava até pra ver a cara da Cris lá toda produzida e maquiada, ainda com a produção da festa de onde veio direto, correndo. Tive uma doula chique! Dr. Jorge e Dra. Mema se revezavam lá por perto, e o Filé ia e vinha, ora pra resolver alguma burocracia, ora pra buscar alguma coisa que eu pedia. Aliás, quando cheguei, um dos meus pedidos foi pra buscarem a banqueta de cócoras, que eu achei que ia querer, pois tinha ouvido uma mulher contar que tinha usado e o marido ficou apoiando, achei legal... Imagina, foram buscar à toa, nem passei perto da tal banqueta. Não adianta ficar imaginando coisas, pois na hora do parto é do jeito que tem que ser, a gente não escolhe, pelo menos não racionalmente.
Lembro da Dra. Mema me examinar e dizer que provavelmente a dilatação já estava total e o bebê começando a descer. Não sei se foi 1 ou 2 vezes que ela me examinou, mas lembro de uma hora começar a reclamar de dor e dizer que queria que nascesse logo e ela falou: ‘Olha, já dá pra sentir a cabecinha chegando, se vc colocar o dedo você vai sentir’. Eu fiz isso, e foi engraçado, pois ao invés de ficar animada comecei a resmungar que estava muito longe ainda, fiquei com medo dele demorar pra descer, a impressão é que ele tinha uns 4 ou 5cm pela frente ou mais. Mas isso também me deu um gás e me fez focar em fazer com que ele descesse, me abrir pra ele passar. Estava agachada no chuveiro na pontinha do box, braços apoiados na parede, ajoelhada no chão. Tem gente que fala que o expulsivo é mais tranqüilo que o final da dilatação, pra mim ele é bem intenso! No final, quando vinham as contrações, além de gritar eu às vezes socava a parede, às vezes batia os pés no chão e faziam um barulho ‘pápápápá’. A Cris do meu lado me ajudando e guiando novamente, às vezes com um olhar, às vezes com um conselho, palavras de estímulo... Eu segurei muito a mão dela, devo ter quase quebrado de tanto apertar! Apesar de essa vez ter sido mais fácil por já ter passado por isso antes, mais uma vez sua presença e apoio foram imprescindíveis, a palavra certa na hora certa. Tanto que, no auge de uma das contrações finais, dessas que a gente começa a pensar ‘por que mesmo eu escolhi passar por isso?’, ela falou ‘Deixa vir, Tati, é só o seu bebê chegando, querendo passar. Abre o caminho...’ Impressionante o efeito dessas palavras naquela hora, era exatamente o que eu precisava ouvir. Em seguida, veio uma bem forte e eu comecei a gritar ‘AAAAAAAAAAAAAAAAAHHHHHH’ e quando eu ia começar a pensar ‘não quero mais, passa logo, chega’, me lembrei do que a Cris falou e o grito virou um ‘AAAAAAAAAAAAAAAABREEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEE’ bem forte, eu levantei o corpo e abaixei de novo fazendo muita força pra baixo, aceitei a contração ao invés de querer mandá-la embora, e nessa hora senti direitinho a bacia se abrindo pro nenê passar, foi incrível! Acho que foi aí que ele ‘escorregou’, pois vieram mais algumas contrações dessas bem fortes e o João já começou a coroar. Nesse finalzinho eu estava de novo muito conectada com o João e com aquele ‘lugar’ que me imaginei no banho lá de casa, é como se a gente estivesse passando juntos por esse lugar, por um túnel, sei lá, era um ‘lugar’ tranquilo, de paz, um momento de prazer.
Teve uma hora que me deu vontade de cantar a música dele (que eu cantava pra ele na barriga, como fiz com o Marcelinho, só que a dele era ‘A Casa’), lembro de cantarolar um pouco na minha cabeça, mas acho que nem cheguei a cantar como da outra vez, e deu uma sensação engraçada de ‘já vivi isso antes’.
Logo que entrei no chuveiro, pedi pra colocarem música, e o Filé colocou a do parto do Marcelinho, que eu estava ouvindo em casa. Foi tão estranho, aquilo de repente começou a me incomodar, como se fosse a trilha sonora do filme errado... Então pedi pra trocar e pegar o CD que tinha comprado naquela manhã pensando no parto, e que tinha a música dele e tudo mais (o CD era do mesmo violonista, o Reginaldo Frazatto, dessa vez o de canções brasileiras da coleção MPBaby). Pronto, agora o João podia nascer!
Numa das contrações mais intensas do final, quando comecei a reclamar, cheguei a pedir pra me darem Buscopan. Não queria pedir anestesia, mas pensei que uma ajudinha seria interessante, sabia que eles faziam isso em alguns casos. Nessa hora é bom não contrariar, então eles pediram pra enfermeira ir buscar o tal Buscopan. Quando ela voltou toda eficiente com a bandejinha e o remédio pronto pra ser aplicado, o bebê já tinha nascido! Depois a Cris falou que não teria feito nem cócegas naquela altura o Buscopan, efeito mesmo só psicológico...
Nos momentos finais, estava todo mundo amontoado perto do chuveiro em volta de mim (e ficaram todos encharcados): a Cris, o Dr. Jorge, o Filé e a Dra Mema. Achei que ia querer o Filé por perto o tempo todo, que iria segurar na mão dele, mas na hora só queria saber da mão da Cris, até pedi pra chamá-lo, mas me desconcentrava, acho que a Cris era uma pessoa neutra com quem não tinha que me preocupar, sei lá. Coisa de ‘mulher selvagem’...
Foi tudo muito rápido, eu não esperava que fosse tanto depois que senti a cabecinha e me parecera longe, portanto fiquei surpresa e feliz quando me dei conta de que o João já estava chegando. Eu estava muito bem apesar das contrações muito intensas do final, feliz mesmo, curtindo a chegada dele. Foi tão lindo, um momento de muito amor. Primeiro saiu a cabecinha e consegui respirar fundo e esperar a próxima contração pra fazer a 2ª força e sair o corpinho. Me falaram ‘a cabecinha já saiu, olha!’ Mas não dava pra olhar muito, só de relance, senão ia perder o foco. Dr. Jorge dizia: ‘Pode vir que eu seguro! Fica tranqüila que eu estou aqui.’ Mais uma força e o João nasceu. Eu tinha ficado sabendo de um parto alguns dias antes em que a mulher pegou ela mesma o bebê na hora que saiu e o segurou nos braços, e tive a mesma sensação. Na verdade, foi quase isso, o Dr. Jorge pegou, passou rapidinho pro Filé e eu peguei o João das mãos dele entre as minhas pernas e o abracei e falei ‘Então era você que estava aí dentro!!!’ Ai que coisa fofa aquela carinha, os olhinhos bem abertos me fitando, nem chorou. Eu estava radiante! Ele nasceu um pouco molinho, mas segundos depois já estava corado e alerta. Pedi pra desligarem a água do chuveiro, acho que acenderam a luz, não tenho certeza. As enfermeiras me ajudaram a levantar, uma delas segurando o João bem perto a mim (ainda estava ligado ao cordão) e fomos devagarzinho para a cama. Eram 1h17min do dia 10 de janeiro de 2009.
Deitei na cama e fiquei abraçada ao João, pele com pele. Não tem nada melhor nesse mundo! O Dr. Jorge estava o tempo todo bem atento ao estado do bebê e ia me orientando: ‘põe ele mais em cima de você, pra ficar mais em contato. Isso, agora está melhor...’. João estava enrolado com uma mantinha nas costas e a barriguinha colada em mim. Logo o cordão parou de bater, eu pensei ‘Já?!’ Chamaram o pai para cortá-lo. Tentei coloca-lo perto do peito pra ver se ele queria mamar logo que deitamos, mas ainda não rolou.
Ficamos um pouco a sós, eu, o Filé e o João, Dr. Jorge ali ao lado. Meus pais chegaram bem na hora do nascimento, deram uma espiadinha na porta minutos depois de eu ter deitado na cama, mas pedimos pra voltarem em alguns minutinhos, pois a placenta nem tinha saído ainda.
Ainda tive que fazer umas forcinhas chatas pra placenta sair, e como da outra vez eu tinha ficado um pouco fraca ele decidiu me dar uma injeção de ocitocina pra ajudar o útero a voltar mais rápido e evitar que eu perdesse muito sangue. Lá fui eu, tomar ocitocina depois do parto... E dessa vez o períneo ficou intacto, nem uma laceraçãozinha sequer.
Meus pais entraram, nos viram, conheceram o João. Meu pai escreveu umas mensagens pros meus irmãos dizendo ‘João nasceu, 48cm e 3600g , estão todos bem, e ele é a cara do avô materno’!
Eu tinha pedido pra chamar um pediatra da equipe, e como foi tudo muito rápido, a Dra. Andréa ainda não tinha chegado, e o Dr. Jorge avisou a equipe do Einstein que ela estava a caminho. Mas um tempinho depois que o cordão foi cortado veio a pediatra do plantão (acho que era a pediatra, se não a enfermeira obstetriz) com uma mantinha nas mãos, seca pra levar o bebê embora pra examinar. Imagina, ele nem tinha mamado ainda, tinha acabado de nascer, e estava ótimo... Não deixei, falei ‘Ah não, mas ele nem mamou ainda, de jeito nenhum, quero ficar mais com ele.’ Coloquei-o no peito e ele ‘tuf’, pegou na hora, graças a Deus, e eu falei ‘Ih, começou a mamar, agora vai ter que esperar’. Ela foi embora claramente contrariada e pediu pra ser chamada quando achássemos necessário. Imagina, levar o bebê sem mamar, sabendo que mamar na 1ª hora após o nascimento é SUPER importante... Tem até uma placa na entrada do Centro Obstétrico dizendo isso, mas nem sempre o que se diz é o que se faz, nesse caso não teria sido se eu não tivesse falado.
A Dra. Andréa chegou, examinou o João primeiro no meu colo mesmo, disse que ia dar Apgar 9 e 10. Depois de um tempo, a enfermeira voltou e perguntou num tom meio irônico: ‘Pode pesar o bebê?’ Aí, enquanto eu subia pro quarto, o João foi pro berçário acompanhado da Dra. Andréa e do Filé.
O João é muito, muito lindo, calmo e comilão, forte e saudável. E eu, uma mãe realizada e feliz.